Quando não fui capaz de dominar a mim, os demônios se apossaram.
Há muito conhecia seus rostos. Rostos que sempre espreitaram.
Suspeitando então da minha vaga lucidez, os aparentados me amarraram em torres de papel, de paredes escritas com insensatez. Nuas porém, vibravam com meus gritos apavorados.
Cada grito possuía sua própria intenção. Uns de despir as roupas do mundo...outros minha própria ilusão...E havia aqueles que me corroíam, por não conseguir achar escapatória nas palavras e com as mãos já cansadas, eu me despedaçava...
De corpo doído e alma esmigalhada, ao cessar da insistência dos demônios, que em algum momento haveriam de dormitar, levantei-me a declarar:
- Não sou livre. Não sou. Mas pelo menos conheço minha prisão e minha dor. Enquanto puder sorrir, sorrir ei. E enquanto puder o sol admirar, admirá-lo ei. Assim como a lua esperarei, daqui desta torre de papel pichado.
Mas o dia chegará em que a haverei abandonado, rasgando tudo como rasgou-se minha alma. Rasgando finalmente com o desdém daquilo que não me atinge mais. Pois nem meus demônios ousarão acordar, se não para lutar ao meu lado...
Só sei que contra mim, não lutarei e de mim não fugirei. Pois que grite minha dor e faça nascer esta flor. Mesmo que rodeadas de espinhos, rasgando e machucando a terra do coração que a suporta. Contudo, seu perfume valerá a pena.
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